O espetáculo infanto-juvenil O Mirabolante Rei das Tretas é a mais nova produção da Quimera Criações Artísticas, dirigida por Jéferson Rachewsky. Livremente inspirada na obra clássica de Hans Christian Andersen A Roupa Nova do Rei e, também, na obra O Inspetor Geral de Nikolai Gogol, o espetáculo bebe na fonte do teatro medieval com seus tipos burlescos se desdobrando em vários personagens para narrar uma fábula popular com imaginação e interação imediata com a plateia. O grupo de quatro atores, muito bem treinados e entrosados, canta, toca, dança e interpreta os personagens deste reino distante onde o povo vive na miséria enquanto o seu rei se preocupa mais com futilidades e prazeres pessoais. Determinado a possuir o mais belo traje real do universo, e assim, tornar-se o rei mais bem vestido de todos os reinos, acaba por acolher duas pseudo estilistas dentro do castelo. As duas embusteiras se aproveitam das mordomias e comilanças, mas, obviamente, não confeccionam nenhuma roupa nova para o rei. Acreditando tratar-se de duas ilustres costureiras o rei continua a sonhar com seu traje divino e com o desfile pomposo diante de todos os seus súditos. Enquanto o rei aguarda, ansiosamente, pelo grande dia, uma série de quiproquós acontece no castelo. Lá fora a plebe, descontente, é presa e mandada para o calabouço. Há um hilariante encontro do rei com o demônio numa das cenas mais interessantes do espetáculo. Finalmente a roupa fica pronta, mas é tão fina e sutil, indescritível e peculiar que o rei, iludido, acredita no que as duas oportunistas lhe vendem. Vestido com o traje invisível, o rei desfila diante da corte e dos súditos, praticamente, nu. Cheio de referências ao nosso momento político atual o espetáculo critica o narcisismo e o egoísmo, próprio dos dirigentes ególatras, mas propõe uma mea culpa do rei que pretende modificar a sua conduta dali por diante. Num roteiro ágil, cheio de canto e dança, pontuado por interferências musicais executada pelos próprios atores, a história envolve adultos e crianças que se encantam pela narrativa simples e inventiva. A carroça funciona como camarim, mas se transforma em aposento do rei, salão das estilistas ou cozinha, conforme o cenário da história. Os lindos e originais figurinos, de Valquíria Cardozo, dão unidade estética a indumentária do grupo. Chapéus, armaduras, gorros e ornamentos de cabeça feitos de tricô e crochê, compõe uma bela galeria de adereços para os inúmeros personagens muito bem jogados pelos atores. Vale a pena assistir e se divertir com essa excelente montagem da trupe Quimera, que mostra que o teatro de qualidade se faz com síntese poética, preparo corporal e afinação cênica e musical. Mas o melhor de tudo é que a mágica toda cabe dentro de uma pequena e simples carroça. Viva a magia do teatro! Porto Alegre, 14 de outubro de 2017.

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