O LABORATÓRIO DO VOVÔ – Crítica de Nora Prado
O Laboratório do Vovô é o mais novo espetáculo infantil da Cia. Teatro Novo. Escrito e dirigido por Fabrizio Gorziza, o novo trabalho dá sequência ao foco da companhia que se especializou em produzir teatro para crianças. Depois de Para Sempre na Terra do Nunca, A Dama e o Vagabundo em Paris e Robin Hood, temos um texto contemporâneo e com personagens da vida moderna. Com cenografia mais simples e menos efeitos especiais, do que nos trabalhos anteriores, a proposta aposta em argumentos atuais para criticar o abuso das redes virtuais e da interferência excessiva dos meios digitais no cotidiano infanto-juvenil. A trama se desenvolve de forma simples, narrando o desejo do vovô de se ver livre das traquinagens dos netos e para tal, cria uma fórmula capaz de torná-los tristes, apáticos, quietos e imersos no universo virtual. Dessa forma o vovô ficaria livre do espírito aventureiro, questionador e inquieto dos seus netos. Seu laboratório seria poupado das peripécias de Guida e Digo. Mas por interferência das crianças e do seu fiel assistente, Hupert, a fórmula é adulterada e quem a bebe é o vovô, tornando-se mais afável, divertido e carinhoso com os netos. Passa a brincar e a se divertir mais com eles. Um novo quiproquó termina por adulterar a fórmula, novamente, e quem bebe é Digo que se torna mais calado e só quer saber de brincar no celular. O avô e Guida usam a máquina do tempo para voltar ao passado e transformar o presente, saindo-se vitoriosos. Tudo termina bem num alerta para o vício contemporâneo do mundo virtual e um apelo para o convício e as brincadeiras do mundo real. Ao contrário das montagens anteriores, o espetáculo em cartaz, tem uma dramaturgia linear e uma direção previsível, que desperdiça o tema e diminui o impacto cênico. Lucas Sampaio ainda está frágil como Vovô, longe de dar vida à figura espalhafatosa e carismática composta pelo figurino. Seu assistente Hupert, interpretado por Luciano Pieper, se esforça para dar credibilidade a um personagem esquisito e deslocado. O menino, vivido por Yuri Niederauer, parece acomodado num estereótipo de criança, enquanto Karen Radde tira proveito de Guida esbanjando graça, bom humor e leveza. A atriz mostra-se à vontade e deve ser o farol para que o elenco inteiro avance em direção a verdade cênica, com coragem e vitalidade, mas sem esforço aparente.
Certamente estes ajustes se darão com o tempo, para que a química entre o elenco aconteça de maneira espontânea e atinja o público. Apesar disso o espetáculo se comunica com os pequenos que se divertem com a aventura.
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